Não pense que pra mim foi fácil ir e te deixar lá...
Não pense que eu já não me machuco, nem sinto, nem temo.
Em mim restou esse sorriso triste, em luto pelo futuro que eu matei quando resolvi partir. Restou também um nó muito apertado na garganta, me impedindo o sono, me doendo, bem aqui. Um nó, uma angústia, dessas que só passam quando a gente resolve chorar.
E o problema, querido, é que eu não quero chorar mais.
Me resta, então, conviver com isso, e me sobraram essas desculpas que eu recito, repito.
E resisto às lágrimas, pra seguir como gente grande, que insisto em querer ser.
E continuo querendo tuas desculpas, por não poder mais seguir contigo, como achou que eu seguiria, por não estar mais do teu lado do modo como voce precisa.
Me resta continuar te oferecendo meu apoio.
Resta, para mim, continuar querendo estar por perto, pra te cuidar, te estender a mão, te aplaudir as vitórias, como sempre fiz desde o primeiro momento.
Me resta doer, junto contigo, e segurar tua mão, até passar.
Me ajuda nisso? Me ajuda a te ajudar...?
Ajuda a transformar essa tua dor em algo bonito, igual eu fiz.
Deixa isso tudo virar lembrança boa, apesar de tudo...
Deixa o tempo ajudar a curar. Deixa essa tua semente bela germinar um pouco...
Deixa as coisas acontecerem devagar, e do jeito que tiverem de acontecer... Deixa?
Assiste comigo as coisas mudarem.
Observa comigo as flores brotarem, vê os frutos surgindo.
Deixa de lado esse tua tristeza, pelo menos tente, deixa?
Sorri pra mim, pra eu poder sorrir também, pra eu conseguir seguir com as minhas próprias pernas...
Deixa eu viver, e vive também. A vida é tão linda, sabe? É a gente que se esquece, e fica tentando forçá-la a ser do modo como a gente quer.
Eu estou aprendendo, também, tanto quanto você.
Estou deixando a vida me acontecer, do modo que ela for.
Devia tentar, querido. Tenta dar essa chance pra vida seguir. E segue também.
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